quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Meio ou meia?

Você também aprendeu que "meio" não flexiona em português, né? Pois é. A tradição literária portuguesa admite essa flexão. A regra contrária parece ser invenção dos gramáticos considerando obrigatório o que era opcional. Há exemplos de Camões, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Castilho e Eça de Queirós do uso flexionado:

  • “Uns caem meios mortos, e outros vão” (Lusíadas, III, 50)
  • "A cabeça do Rubião meia inclinada" (MA, QB)
  • "Casou meia defunta" (MA, VH)
  • "A boca meia aberta" (MA, VH)
  • "A mesma mulher, sempre nua ou meia despida" (EQ, CS)
  • "Cinzeiros com cigarros meios fumados" (José Régio, História das Mulheres)
  • "Cadáveres meios enterrados nas ruínas" (CCB, O judeu)
  • "A carne dos cavalos meia crua" (AH)
  • “Estes homens rudes combatiam meios nus.” (AH)
  • "Os outros corpos estão meios podres" (Pe. Manuel Bernardes)
  • "Deixando a porta meia aberta" (Feliciano de Castilho)
  • "O outro, de cara meia triste" (M. de Andrade, Candinha)
  • "Meia inquieta, adormeceu" (M. Andrade, Belazarte).
[Por vezes, algumas dessas frases foram "corrigidas" em edições modernas].